A ideia de que os seres humanos são criaturas auto-relacionais – que podemos saber o que se passa nas nossas mentes – pode parecer óbvia, simples e talvez básica para o que sabemos e experimentamos ser verdade no yoga. No entanto, é uma noção extraordinária quando se considera as suas implicações.

Os antropólogos diriam que somos observadores participantes. Participamos nas nossas vidas interiores e exteriores, e também podemos ficar para trás e observar-nos desde uma perspetiva externa.

Acredito que esta é uma das principais formas de transformação através do yoga. À medida que praticamos, criamos distância suficiente dos nossos estados mentais e pensamentos para podermos vê-los e conhecê-los. Como resultado de nos apercebermos dos nossos pensamentos e humores, ganhamos alguma liberdade em relação a eles. Nesta liberdade reside a possibilidade de uma mudança de perspectiva.

Num retiro que ensinei há uns anos, uma participante partilhou como isto expressou algo que ela tinha vivido enquanto enfrentava desafios substanciais na saúde. Através da consciência que adquiriu nas suas práticas de meditação e respiração, reconheceu que a sua habitual reactividade já não lhe servia e, acima de tudo, percebeu que tinha escolha. Ela não tinha de ser o seu eu reactivo habitual. Podia praticar ser mais aceitante e paciente.

Através da presença e pausa, surgiu a possibilidade de uma resposta diferente, que a serviu melhor.

Esta é uma capacidade que desenvolvemos no yoga. Cultivamos a presença da mente para parar e lembrar que esta mudança de perspectiva está disponível para nós, e depois para considerar e dar espaço para outras possibilidades.

Aqui está uma maneira de experimentar este processo através da consciência da respiração:

1- Presença: A respiração acontece agora. Estar consciente da sua respiração traz-te o presente, imediatamente. Não podes preocupar-te com o futuro ou com o que ficou no passado quando a tua atenção está na respiração.

2- Pausa: Consciencializar a respiração permite-te recuar e ter um momento antes de reagir quando um condutor rude te passa ou o teu filho não limpa o quarto, novamente. Parar para respirar cria um espaço onde ganhas maior controlo na forma como respondes a situações.

3- Possibilidade: Na pausa existe a possibilidade de não reagir de forma habitual e, em vez disso, responder de forma mais ponderada e intencional.

Presença, pausa e possibilidade é a trajectória que viajamos vezes sem conta na jornada para nos tornarmos mais do que queremos ser.