Pode surpreendê-lo saber que, durante muito tempo, lutei para encontrar uma maneira autêntica de praticar a gratidão. Por “autêntico”, refiro-me a uma forma de gratidão enraizada na realidade, que não ignora nem nega as dificuldades da vida nem tenta minimizar a dor que podemos estar a sentir.

Para ser honesta, considerando tudo o que acontece no mundo, questionei se isso seria possível. No entanto,  estava determinada a encontrar uma abordagem genuína para cultivar a gratidão devido aos seus benefícios bem documentados para o nosso bem-estar físico, mental, emocional e espiritual. Mas a abordagem pão de forma: “escreve um diário”, “visualiza isto e aquilo” e outras fórmulas de gurus de instagram não me serviam.

Uma razão pela qual a gratidão pode ser desafiadora de experimentar é que os seres humanos estão naturalmente predispostos para se concentrarem no que está errado. A evolução conectou os nossos sistemas nervosos para estarem em alerta para potenciais ameaças e perigos como um mecanismo de proteção.

Para neutralizar esse viés de negatividade – a nossa tendência de nos concentrarmos em eventos negativos mais fortemente do que em eventos positivos – temos que fazer um esforço consciente para nos concentrarmos no positivo. Por exemplo, é fácil ignorar o que está dando certo. Já agradeceu hoje por não estar com uma dor de dentes?

No contexto da filosofia do yoga, a gratidão pode ser vista como uma forma de pratipaksha bhavana. Esta é a prática prescrita na tradição do Yoga Clássico de responder a pensamentos negativos cultivando o seu contrário positivo.

A mudança veio para mim ao ver a gratidão autêntica como uma prática activa, uma resposta e uma atitude mental que podemos, e precisamos, cultivar para realmente a experimentar. E  é possível fazer isso independentemente do que está a acontecer nas nossas vidas.

Não significa sentir-se feliz quando coisas menos boas acontecem ou descartar emoções negativas. Em vez disso, envolve fazer um esforço deliberado para apreciar conscientemente por nos sentirmos genuinamente gratos em qualquer momento.

À medida que pratiquei a aplicação disso, descobri que há sempre algo a agradecer. Pode ser algo tão simples como a minha respiração, as plantas no meu quintal, as meias quentes que estou a usar, a música que estou a ouvir ou o almoço. Há sempre algo e, por mais trivial que pareça, é sempre encorajador e edificante.

Quando abordamos a gratidão como uma prática, vemos que não precisamos de esperar que coisas boas aconteçam para nos sentirmos gratos. A gratidão torna-se uma perspectiva que trazemos para a vida.

A gratidão alimenta a conexão com a vida e, como tal, pode ser uma força edificante que nos fortalece para enfrentar os desafios da vida com maior resiliência.

Com o tempo, pode descobrir, como eu, que a prática do apreço consciente pelo que somos é uma postura empoderadora que promove contentamento e bem-estar genuínos.