Há dois equívocos (há mais, mas por ora vou focar nestes dois) que, frequentemente, acabam por afastar algumas pessoas do caminho do Yoga. O primeiro é a pressa de achar que o Yoga vai resolver todas as nossas questões existenciais com base na lei do menor esforço. E já que tanto se fala de disciplina a propósito da prática de yoga, o que realmente disciplinamos é o movimento da nossa consciência; treinamo-nos para ficar em vez de fugir do que quer que seja que estamos a experienciar. Quando escolhemos ficar com a nossa prática apesar dos altos e baixos da vida, estamos activamente a escolher focar a nossa consciência naquilo que é imutável em nós. Em cada prática, começamos a identificarmo-nos com esta parte estável em nós. Quando nos sentimos tristes, praticamos. Quando nos sentimos felizes e excitados, praticamos. Quando estamos mergulhados na escuridão de um luto, praticamos. Quando temos um milhão de coisas para fazer, praticamos. Mas não praticamos para nos livrar seja lá do que for. Não praticamos para fugir ou suprimir sentimentos, nem praticamos desde um negacionismo estóico. Quando praticamos em alturas altas e baixas da nossa vida, em momentos felizes ou infelizes, o que estamos realmente a dizer é: “A tristeza está a mover-se em mim, mas a tristeza não é o que sou; a euforia está a mover-se em mim, mas eu não sou euforia; o luto está a mover-se em mim, mas o luto não me define”. Quando praticamos independentemente das circunstâncias, criamos espaço para experienciar na totalidade os sentimentos que temos mas sem permitir que eles nos paralizem ou que cristalizem na nossa identidade.

O segundo equívoco nasce de uma grande confusão acerca do que seja ser-se livre e como o yoga é um meio para essa liberdade. Alguns pressupostos a este respeito: 1) o conhecimento do ‘eu’ está disponível apenas quando procuramos por ele; 2) A liberdade não é possível sem o ser se reconhecer como livre. Mas, acima de tudo, tem de haver a conversão do desejo de ser livre no desejo de conhecer, pois o desejo de ser livre pode levar-nos para longe do Conhecimento.