Não é fascinante considerar a natureza paradoxal do asana (postura de yoga) como uma prática de bem-estar espiritual? Através do corpo, no corpo, e usando o corpo, procuramos algo além do corpo.

Recebi recentemente um e-mail de um novo aluno que escreveu:

“Estou ansioso por aulas que me possam lembrar do que se trata isso de praticar yoga…”

Já te envolveste tanto na prática de yoga que perdeste de vista o porquê? Claro que sim. Este ano reflecti muito e, na minha prática pessoal, houve muitos dias em que achei que não era importante estar 2 h a praticar asana e abdicar de 1 dessas 2 horas para estar com um amigo, trabalhar noutras coisas em serviço de outros, estar com os que me são próximos, estar na natureza. Não conheço nenhum sábio que dedicasse 2h do seu dia à prática de asana. E é sabedoria que quero; não dizer que consigo fazer uma postura X ou Y. É preciso ter claro o porquê de se fazer o que quer que seja.

A emoção de fazer algo com o corpo que outras pessoas acham impressionante é sempre de curta duração. Mais: muitas vezes prende-nos na mentalidade habitual durante esse tempo de esforço, de autocrítica, de nunca se sentir bem o suficiente quando se trata de yoga.

É esse o problema com o desempenho em Asana. Embora conseguir posturas complexas possa ser um “sucesso” positivo, gratificante e de confiança, é sempre temporário. O corpo – e, portanto, a nossa capacidade – está sempre a mudar. Além disso, sempre que prendemos a nossa felicidade a algo externo para nós, mesmo que seja um asana, o nosso contentamento fica condicionado a essa circunstância ou experiência.

Comecei a praticar yoga a sério porque queria experimentar um tipo de felicidade que não dependia de nada fora de mim. Como a minha prática tem evoluído ao longo dos anos de ser motivada por postura até ao que é hoje, motivada pelo bem-estar incondicional é o que sempre foi para mim.

Já não pratico asana para conseguir uma postura ou apenas por uma questão de aptidão física. A minha prática postural agora é principalmente sobre cultivar uma sensação encarnada de bem-estar que vai muito além do corpo. Trata-se de restaurar e nutrir a minha ligação com aquele lugar de felicidade independente que vive dentro do corpo e ainda transcende o corpo.