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O que é yogaterapia?

5 de Novembro, 2021

Two Elephants, por Amrita Sher-Gil

O campo emergente da  yogaterapia está mergulhado na história e tradição do Yoga, que remonta a pelo menos 2.500 anos em termos de história registada. Mas pode dizer-se que a terapia moderna de yoga  começou a ser desenvolvida há cerca de 200 anos, quando a ciência e a medicina ocidentais começaram a pesquisar e fazer estudos científicos sobre yoga. Ou seja, a validação científica de técnicas e metodologias do yoga, ajudou a enfatizar o lado terapêutico do yoga. 

Os primeiros institutos de yoga moderno começaram na Índia na década de 1920, enquanto a Índia estava sob o domínio britânico. Durante esse tempo, novas formas de ensino foram trazidas do sistema educacional inglês, como aulas em grupo em oposição ao estudo um-a-um com um guru. Eram partidas da cultura espiritual tradicional. Outra mudança foi o foco nas posturas. De acordo com Mark Singleton, autor de Yoga Body:

“A primazia da performance do ásana no yoga transnacional hoje é um novo fenómeno que não tem paralelo nos tempos pré-modernos”

Joseph Le Page, o fundador da Terapia Integrativa de Yoga, diz que a terapia de yoga e yoga baseada em asana são, em muitos aspectos, novas criações, em vez de uma continuação de uma tradição espiritual indiana específica.

Desde a década de 1970:

  • O yoga tornou-se mais integrado com a cultura ocidental.
    A investigação estima que cerca de 15,8 milhões de pessoas agora praticam yoga.
    Há um corpo crescente de pesquisas que tentam quantificar os benefícios do yoga na prevenção e tratamento de uma ampla variedade de doenças.
    O yoga está a ser gradualmente aceite como um complemento à medicina alopática.
    Todos esses factores deram origem à modalidade emergente de yogaterapia.

Os Objetivos da Terapia Moderna de Yoga

A definição curta atual desenvolvida pela Associação Internacional de Terapeutas de Yoga é:

“A terapia de yoga é o processo de capacitar os indivíduos a progredir em direção à melhoria da saúde e do bem-estar através da aplicação dos ensinamentos e práticas do yoga.”

A yogaterapia é a aplicação profissional dos princípios e práticas do yoga para promover a saúde e o bem-estar dentro de uma relação terapêutica que inclui avaliação personalizada, definição de metas, gestão de estilo de vida e práticas de yoga para indivíduos ou pequenos grupos.

A prática da yogaterapia visa desenvolver o autoconhecimento através de um processo de testemunho pessoal e compreensão do eu em todos os níveis, corpo, respiração e mente (incluindo intelecto e emoções), e a sua interacção mútua. Do ponto de vista do yoga, o autoconhecimento é a saúde no sentido mais completo. É uma modalidade que pode ser aplicada a grupos ou indivíduos com desafios específicos à saúde.

A terapia do yoga não é sectária e é não hierárquica. O Código de Ética estabelece que os terapeutas de yoga “prestarão os seus serviços de forma não criminal”. Isso pode significar não discriminar com base na religião, raça, política, etc. No entanto, se um terapeuta de yoga tem uma crença pessoal ou preocupação que possa impedi-los de fornecer um serviço justo e equitativo, ele tem a opção de encaminhar o cliente/aluno para outro profissional. O termo “não hierárquico” refere-se ao estabelecimento de uma relação cliente-terapeuta em que cada parte está em pé de igualdade, estabelecendo uma parceria terapêutica. As Normas Educacionais esperam que o terapeuta de yoga tenha uma capacidade demonstrada de “reconhecer, ajustar e adaptar-se às necessidades específicas do cliente/aluno na evolução do relacionamento terapêutico/profissional”.

Os objetivos da yogaterapia incluem: eliminar, reduzir e/ou gerir sintomas que causam sofrimento, melhorar a função, ajudar a prevenir a ocorrência ou re-ocorrência de causas subjacentes da doença, e avançar em direção à melhoria da saúde e do bem-estar. A terapia de yoga reconhece que o alívio dos sintomas é apenas uma faceta do processo de cura e que nem todas as doenças podem ser curadas. No entanto, fornece uma metodologia para reduzir a dor e o stress, e aliviar sintomas físicos e sofrimento psicológico. A yogaterapia  reconhece que a jornada de cura é única para cada indivíduo e por isso seleciona, adopta e modifica todas as práticas adequadamente para o indivíduo e/ou grupo, dependendo da idade, condição física e habilidade, religião e cultura.

Qual é a diferença entre yoga e yogaterapia?

Todo yoga é considerado terapêutico, mas a terapia de yoga é yoga com foco específico na saúde e cura. É diferente de outros sistemas de yoga onde a estrutura e o conteúdo da classe podem ser pré-estruturados e os alunos moldam-se ao que está a ser ensinado. Numa sessão de terapia de yoga ou sessão privada, a condição de cada paciente/aluno, os níveis de stresse e as expectativas para a aula ou sessão privada são determinadas de antemão e a sessão ou aula que se segue é uma colaboração em evolução entre o terapeuta e o paciente/aluno. A terapia de yoga é baseada em educação criativa e centrada no aluno, onde os terapeutas de yoga se vêem como facilitadores e guias. O foco é despertar a conexão do aluno com sua própria verdadeira fonte de bem-estar, porque é aí que a verdadeira cura pode ocorrer.

A prática de lembrar

12 de Setembro, 2021

Meditação

Há alturas em que nos sentimos mais desorientados, mais desconectados, mais ‘aéreos’. Alturas em que temos de lidar com o mundo a mudar à nossa volta, com as mudanças nas nossas vidas externas, mas também com mudanças em nós mesmos. E ainda que saibamos, mais ou menos, confiar nesse processo de mudança, às vezes o stress, ou os diferentes tipos de stress que nos afectam, engolem as partes em nós que mais apreciamos.

Por isso, escrevi esta meditação que quero partilhar convosco para nos ajudar a conectar a uma compreensão mais profunda de nós mesmos.

E as nossas memórias podem muito bem ser um instrumento que nos ajude nessa conexão, em particular, memórias e experiências do passado que despertaram em nós criatividade, alegria, leveza. Quando me conecto a essas qualidades dentro de mim, sinto-me em casa. E são a essas qualidades com as quais eu luto para me conectar quando me sinto sobrecarregada ou ansiosa. Focar nas minhas memórias na minha prática de meditação pode ajudar a deixar cair a narrativa no centro do meu stress e abrir espaço para um conhecimento mais profundo de mim mesma.

Meditação

Convido-te, então, a redescobrires-te através da arte da memória. Tira um momento para contemplar uma qualidade dentro de ti que gostarias de experimentar — uma parte de ti que tenhas esquecido. Pensa numa memória que capture a essência dessa qualidade.

Para começar, senta-tee confortavelmente. Olha para um ponto parado e relaxa os olhos. Podes fechá-los, se quiseres. Traz a atenção para tua respiração. Observa a tua respiração corporal e usa a expiração para liberar qualquer tensão que possas notar no teu rosto, ombros ou abdómen. Quando apanhares a tua mente a vaguear, basta trazê-la de volta à observação da respiração.

Agora foca na memória que escolheste. Vê-ee nesse momento. Pinta um quadro vívido na tua mente. O que vês? O que ouves? O que sentes? Tira alguns minutos para reviver a experiência no teu corpo.

Imagina respirar a memória nos teus pulmões — o cheiro, as cores, os sons. Deixa-te preencher por essa memória.

Como é seres tu mesmo naquele momento? Que aspecto de ti despertou? Observa a tua respiração e observa quaisquer mudanças na tua energia.

Fica com esse sentimento o quanto quiseres.

Quando estiveres pronta/o, lentamente aprofunda a respiração. Solta o queixo na direcção do peito. Se os teus olhos estiverem fechados, abre-os suavemente. Toma o teu tempo voltando para o lugar onde estás.

Podes reflectir sobre a experiência na tua meditação — detalhes sobre a memória que se revelaram para ti; como era revisitar o lugar e tempo escolhidos; ou como a tua memória te ligou de volta a ti mesmo/a.

A memória é uma ferramenta que pode ajudar-nos a ver mais claramente através das lentes das nossas experiências passadas. Incorporar a memória na minha prática de meditação enraiza-me em mim mesmo e lembra-me que estou sempre tornar-me mais quem eu realmente sou. Esse processo de redescoberta inspirou uma compreensão muito mais profunda de mim mesma.

Quietude é acção

5 de Abril, 2020

 

Mesmo quando nada está a acontecer, algo está a acontecer. Este é um facto difícil para o ser humano entender, já que tanto venera o altar da produtividade e tão prontamente confunde a ocupação pela eficácia, e pela propulsão em direção ao progresso. O silêncio é uma forma de discurso, escreveu Susan Sontag, “e um elemento num diálogo.” A quietude é uma forma de acção e um elemento de avanço e de progresso.

Há certos momentos, como quando o inverno passa a primavera, em que a própria natureza nos lembra deste facto elementar e escorregadio: os botões começam a desenhar as esqueléticas silhuetas das árvores, retendo folha e flor até que seja o momento certo, até que seja seguro derramar nova vida no ar frio exterior.

Há também certos momentos na cultura em que devemos lembrar, especialmente, para nos mantermos sãos, este facto elementar escorregadio.

O escritor Tocqueville dizia que:

“Pensamos que eles estão parados, mas na verdade o que se passa é que o seu progresso escapa à nossa observação, pois aqueles que caminham parecem estar parados para aqueles que correm”

Porque essa quietude transformadora é tão imperceptível, observa Tocqueville, e porque aparece após períodos de turbulência, normalmente confundimos a quietude com um ponto final. Quase dois séculos antes do psicólogo Daniel Gilbert concluir que “os seres humanos são trabalhos em andamento que pensam erroneamente que estão acabados”, na sua excelente investigação sobre como as nossas ilusões actuais dificultam a nossa felicidade futura, Tocqueville admoesta contra essa ilusão de finalidade, tão verdadeira na escala dos indivíduos como é na escala de sociedades, nações e civilizações.

Algumas sugestões para cultivar essa quietude essencial:

Procure a companhia de pessoas que admire (contacte com elas tanto quanto puder)´

Adicione experiência e experimentação sobre essa mistura.

Não vire costas a situações difíceis.

Aceite desafios.

Familiarize-se com o que não é familiar – a sua mente, por exemplo. É assim que amplia a sua visão e perspectiva.

Lide com grandes questões. Lide com grandes ideias. Trate o seu cérebro como um músculo.

Não confunda a busca por sabedoria com um scroll de fotografias de praias paradisiacas e de gatinhos fofos.

Olhe honestamente para o que não sabe.

Não alimente inseguranças. Não alimente ilusões de grandezas. Ambos sáo obstáculos à quietude.

Seja confidante. Merece isso.

Slow is smooth. Smooth is fast. Como sugeria Marco Aurélio: “Pergunte a si mesmo a todo o momento: ‘Isto é necessário?’”

 

(English version)

 

Even when nothing is happening, something is happening. This is a difficult fact for the human animal to fathom — especially for us modern sapiens, who so ardently worship at the altar of productivity and so readily mistake busyness for effectiveness, for propulsion toward progress. Silence is a form of speech, Susan Sontag wrote, “and an element in a dialogue.” Stillness is a form of action and an element in advancement, in evolution, in all forward motion.

There are certain moments, as when winter cusps into spring, when nature itself reminds us of this slippery elemental fact: Buds begin to spine the skeletal silhouettes of trees, withholding leaf and blossom until it is right, until it is safe to spill new life into the chilly air;

Because this transformative stillness is so imperceptible, Tocqueville observes, and because it appears after periods of upheaval, we are apt to mistake the stillness for an end point. Nearly two centuries before psychologist Daniel Gilbert quipped that “human beings are works in progress that mistakenly think they’re finished” in his excellent inquiry into how our present illusions hinder our future happiness, Tocqueville admonishes against this illusion of finality, as true on the scale of individuals as it is on the scale of societies, nations, and civilizations

“There are certain epochs in which the changes that take place in the social and political constitution of nations are so slow and imperceptible that [people] imagine they have reached a final state; and the human mind, believing itself to be firmly based upon sure foundations, does not extend its researches beyond a certain horizon.

The great gift of such periods is that they invite us to question our certitudes, our givens, these seemingly sure foundations that have lulled us into complacency — for it is only by being jolted out of our complacencies, cultural or personal, that we ever reach beyond the horizon, toward new territories of truth, beauty, and flourishing.

“We imagine them to be stationary only when their progress escapes our observation, as [people] who are walking seem to be standing still to those who run”.

 

Uma maneira inteligente e simples de começar o dia conscientemente. Sintonize com as sensações do seu corpo e respiração, para que possa permanecer conectado durante o resto do dia. Pode usar um bolster, um cobertor ou um bloco para se sentar de forma mais confortável. Só não vale fazer deitado na cama à espera do snooze 🙂

E mais uma prática rápida também.

Uma sequência acessível a todos.