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Salamba Sirsasana I

1 de Junho, 2020

Salamba simgnifica suporte. Sirsa significa cabeça. Esta é a postura invertida sobre a cabeça, uma das principais posturas de yoga, considerado até como o rei dos ásanas. É uma postura fundamental e apresenta diversas variações, conhecidas como o ciclo de sirsasana (mais frequentemente praticado no estilo iyengar). Vamos aqui – recriando o esquema apresentado no livro Light on Yoga, de B. K. S. Iyengar, apresentar a sequência para entrar na postura para quem está a iniciar a sua prática. Toda esta sequência pode ser feita com o apoio da parede. Não deve tentar fazer esta postura pela primeira vez sem o acompanhamento presencial de um professor qualificado.

Este esquema visa apenas ajudar à prática pessoal de quem tem uma prática regular com acompanhamento de professor.

1 &2. Pouse os antebraços ou os cotovelos no tapete à distância dos ombros. A distância entre os cotovelos não deve ser maior do que a dos ombros.

2. Entrelace os dedos de forma a que as palmas das mãos formem uma concha. Quando subir para o equilíbrio, os dedos devem manter-se firmemente entrelaçados. Se estiverem moles, o peso do cropo cai sobre eles, fazendo os braços arquearem.

3. Pouse a coroa da cabeça no chão de forma a que a nuca encaixe na concha das palmas das mãos. Não pouse nem a testa nem a nuca no chão. Para isto, aproxime os joelhos da cabeça. Depois de assegurar a posição da cabeça, eleve os joelhos do chão ao caminhar com os pés em direcção à cabeça.

4. Expire e, com a força do abdominal, suba as pernas do chão com os joelhos dobrados. Faça essa elevação de tal forma que os dois pés saiam do chão ao mesmo tempo. Quando isto estiver garantido, avance para as fases seguintes (fotos 5, 6, 7 e 8).

9 & 10. Estique as pernas e equilibre-se sobre a cabeça, mantendo todo o corpo perpendicular ao chão (vista lateral – 9; vista frontal- 10).

Note que este asana não é para relaxar em equilíbrio sobre a cabeça. Esta é uma postura que exige força e resistência para elevação dos ombros e da parte superior das costas de forma a permitir um alongamento da coluna, também na região lombar, por um tempo considerável.

Tente criar a acção de afastar os cotovelos – sem efectivamente o fazer – para que os ombros se abram e para activar o grande dorsal, trazendo mais estabilidade à postura.

Repare que o pescoço deve estar longo, tal como em tadasana. Para isso, pressione o topo da cabeça contra o chão, o que cria uma sensação de leveza e alivia a pressão sobre o pescoço. O peso nunca deve ir para a cabeça, mas sim ser suportado pelos braços. Prefira menos tempo de permanência na postura com mais qualidade.

Atente na verticalidade do corpo (mais uma vez tenha tadasana como referência) e contraia o grande glúteo e adutores (juntando os joelhos) para não colapsar na lombar e active abdmomens e psoas.

Advertência: Praticantes com problemas na coluna cervical não devem fazer este ásana. O mesmo para quem  tem tensão alta (sem estar medicado) e quem tem problemas de coração.

Benefícios:

Melhora a circulação sanguínea no cérebro, tendo um efeito rejuvenescedor. É tonificante para quem sente sempre ‘ a cabeça cansada’. Garante um aporte de sangue adequado às glândulas pituitária e pineal, essenciais para a saúde e vitalidade do corpo.

Pessoas com insónia, perda de memória e vitalidade beneficiam da correcta prática desta postura.

Robustece os pulmões, disciplina a mente.

Sirsasana counteracts tiredness, improves concentration and boosts self confidence. When practiced correctly, headstand oxygenates the brain. It can also help those with memory loss.

Other benefits: helps those with arthritis of the lower back, dorsal region, and shoulder joints. It also reduces lumbago, sciatica, and general backache. Sirsasana works on the legs; any experienced yoga practitioner who has had the misfortune of spraining a knee or an ankle knows how effective this pose is at bringing down a swelling or inflammation in these joints. Varicose veins and coccyx pain and displacement can also be dealt with.

Diseases of the respiratory system, lungs and heart such as palpitations, asthma, breathlessness, bronchitis, nasal catarrh, chills, cold and cough, and (after medical treatment and rest) pleurisy and pneumonia, can all be brought to vibrant good health through regular practice of this pose.

This pose also brings relief for those suffering from digestive problems; constipation, acidity, colic and colitis can all be ameliorated with this and other poses. It can also boost low blood pressure. Other conditions that greatly benefit from Sirsasana are diabetes, displaced uterus, epilepsy, umbilical hernia, inguinal hernia, impotency, anemia, appendicitis, insomnia, kidney problems, menstrual disorders, prostrate problems, tonsillitis and duodenal ulcer.

Fonte: Light On Yoga, B. K. S. Iyengar

Papel higiénico e yoga?

17 de Março, 2020

Há coisas que ninguém percebe, não é? Como essa coisa do papel higiénico a desaparecer  em alturas de crise.

Bom, a verdade é que sentimentos de pânico afectam o nosso primeiro chakra ou centro de força, que é precisamente o responsável pela nossa sensação de segurança e estabilidade. Este chakra está situado na base da coluna. Claro que isto é mais simbólico do que outra coisa, mas se pensarem naquela coisa de ‘borboletas na barriga’, ‘friozinho na barriga’ e ‘dar a volta à tripa’, talvez o Ayurveda não esteja asism tão enganado… Quando o medo toma conta dessa zona do corpo, sentimo-nos como se nos puxassem o tapete por debaixo dos pés….de repente, parece que anda tudo no ar, não nos sentimos enraizados, sem âncora e acabamos por viver quase inteiramente nas nossas mentes.

O que precisamos é de voltar a reconectar com o nosso corpo. Ficar em casa, praticar yoga e esquecer o papel higiénico.

Por isso, já percebem porque não sou nada fã de aulas de yoga online.

Uma maneira inteligente e simples de começar o dia conscientemente. Sintonize com as sensações do seu corpo e respiração, para que possa permanecer conectado durante o resto do dia. Pode usar um bolster, um cobertor ou um bloco para se sentar de forma mais confortável. Só não vale fazer deitado na cama à espera do snooze 🙂

E mais uma prática rápida também.

Uma sequência acessível a todos.

 

Everyday Life Yoga Portrait by SARA CORREIA

Caso sejam dos que não vão deixar de utilizar as redes sociais nesta altura, vou deixar aqui algumas sequências acompanhadas de aspectos que me parecem bem mais importantes a ter em conta.

Uma delas é a disciplina do nosso discurso. Isso pode ser feito quando publicamos nas redes sociais, mas também em casa, agora que estamos ‘obrigados’ a estar mais tempo em família e já se sabe que isso, por vezes, traz alguns arrufos e exaltações.

Na Bhagavad Gita, no verso 15 do capítulo XVII, Kṛṣṇa indica quatro princípios a serem observados quanto à palavra: “Discurso que não cause agitação, que seja verdadeiro, agradável e benéfico (…)”.

Desde sempre considerei a disciplina da palavra uma das mais importantes disciplinas que qualquer pessoa deve seguir. E no mundo do yoga, muito preocupado em transmitir visões religiosas ou Verdades e discursos de auto-ajuda, muitas vezes esquece-se desta disciplina que tem o nome de Vak tapas.

E considero-a importante, desde logo, porque faz-nos estar constantemente alerta e presentes em cada momento do nosso dia. A vigiar, como alguém há muitos séculos nos aconselhou.

Então, os 4 princípios a serem observados em vak tapas, quanto ao uso da palavra são:

  1. Anudvegakaram, ahiṁsā ao nível da palavra é o primeiro aspecto; ser atento e cuidadoso na forma de nos expressarmos para que as palavras não magoem ou agridam ninguém. Isso, só por si, exige estar atento para perceber a tendência que haja em nós para a crítica, para a culpabilização e para o falar mal de ou denegrir. Por exemplo, vejo muitos a criticar atitudes de pessoas hoje em dia que não respeitam as directrizes das autoridades, mas lembremos que ninguém estava preparado para o que está a acontecer. O mundo ocidental é um mimado, acha-se, historicamente, superior e que nunca nada lhe vai acontecer. Nem com o holocausto aprendemos, ou aprendemos muito pouco, por isso, não vale a pena criticar ninguém e sim, pensar que cada um faz o melhor que consegue e sabe a cada momento. Não usemos a palavra para disputar, deprimir, envergonhar, criticar, acusar, ferir ou maldizer.
  2. Satyam, ser verdadeiro. Lembremos que o início de todas as hecatombes no Planeta está, quase sempre, no uso da língua. Ainda que a fala tenha função edificante, normalmente usamo-la para cogitações pequenas e de subterfúgio. As grandes tragédias sociais e individuais nascem da conversação de sentimentos inferiores. Não importa apenas falar, mas verificar o que damos com as nossas palavras. Porque transmitimos estados de alma com as nossas palavras. Se tivermos verdade em nós, o nosso discurso também a terá. Se formos autênticos, as nossas palavras também serão.E se não formos verdadeiros connosco, com os que nos rodeiam e no plano relativo em que nos movemos, também mais dificil será percebermos a Verdade do que somos. Sermos verdadeiros nas palavras que dizemos a nós e aos outros também nos leva a menos agitações na mente.
    3. Priyam, o discurso deve ser agradável. “A Lingua também é um fogo” (Tiago, 3:6). O nosso discurso deve ser agradável e amoroso no tom e na expressão. O diálogo é o que nos expõe o mundo íntimo.
    4. Hitam, bom e benéfico para o ouvinte. Também na palavra não devemos pensar só no que nos serve a nós, e ao que achamos, mas também tentar perceber se o que vamos dizer é benéfico para quem nos ouve.

Do ásana

Tadasana paschima namaskar é um simples, mas avançado estiramento do ombro e tórax praticado a partir de uma posição em pé. O nome vem do sânscrito, tadasana, ou postura da montanha; paschima, que significa “oeste/ocidente”, referindo-se à parte de trás do corpo; e namaskar, que é uma saudação e termo de respeito.

Como o nome sugere, tadasana paschima namaskar é uma variação de tadasana, mas com as palmas das mãos juntas no centro das costas numa uma posição de prece e respeito.

Porque há simbolismos que nos fazem pensar.

Uma sequência de hatha yoga

Desenhos por Carlos Garrido

 

Há sempre pessoas e ‘casos’ que nos marcam neste caminho de partilhar yoga com outros.  X é um desses casos. Quando conheci X pela primeira vez, X não era capaz de manter a atenção em algo ou numa conversa por 5 minutos sequer. A sua disposição variava entre uma letargia profunda e os altos e baixos próprios de quem toma muita medicação. Para além do olhar disperso, fugidio e baço que nunca mirava em frente, a primeira coisa que notei em X quando entrou na sala de prática, ainda no antigo shala, foi a postura que já pouco tinha de erecta: umas costas curvadas que escondiam totalmente o peito, as pernas sem firmeza, o andar bamboleante de quem tremia por dentro e por fora. E as crises de choro que tinha no savasana que era incapaz de fazer por 1 minuto sequer.

Passaram-se 3 anos e qualquer coisa e dizer que X já não é a mesma pessoa poderia ser um cliché. X é essa pessoa que se ergueu, que apostou em si quando tudo lhe dizia para não o fazer. Com uma das profissões mais desgastantes que se pode ter, com uma vida familiar exigente, encontrou sempre  dedicação, a força e o empenho para se dedicar à prática e ao que era preciso ser feito para se ajudar. Vem de longe de Matosinhos, mas ainda assim é rara a semana em que não vem praticar pelo menos 4 vezes por semana. A certa altura, e por experiência própria, achei que ela era a pessoa que a prática de ashtanga podia ajudar. Tentei convencê-la durante quase 1  ano; X achava que nunca ia memorizar a sequência de posturas. Um dia, lá se decidiu a tentar. Eu sabia que ela precisava de uma solução mais ‘radical’  e que as aulas de hatha yoga, em que são poucas as pessoas que se conseguem focar em si, já não eram suficientes. X precisava de enfrentar os seus demónios a sério, mas também ganhar a confiança, de saber por si, que era capaz, que é CAPAZ. Continua a ser ashtangi com mais assiduidade- complementando ainda com algumas aulas de hatha yoga. Está presente em qualquer  oportunidade adicional que há para aprender mais e segue em frente. Se deixou de ter dias maus? Não. Se deixou de ser, por vezes, tomada por sentimentos menos positivos? Não. Mas ninguém vai alguma vez deixar. Sem que alguma vez mo tenha dito, sei que houve (muitos) dias em que que X saíu frustrado(a) das aulas, que saíu zangado(a) comigo, que se perguntou se valeria a pena tanto esforço e dedicação. Não lhe mostrei os vários estudos científicos que mostram como o yoga em geral e o ashtanga em particular promovem resultados positivos nos problemas de saúde que X enfrentava. Houve dias em que fui dura e muito, muito assertiva com X. Houve dias em que lhe repeti inúmeras vezes para respirar, que abrisse o peito, que acreditasse, que fizesse, que não desistisse. Até ela quase não me poder ouvir 🙂 Não o faço com toda a gente, mas acima de tudo porque X teve sempre a bonita atitude de se colocar humildemente como aluna e estudante de yoga. Não minha aluna ou deste shala, mas do Yoga. E isso, no mundo de fast yoga, de fast trainings, de fast students, é cada vez mais raro. Mas para problemas fundos, a solução tem de ser radical. E a proposta do yoga é radical: a de ganhar autonomia para procurar as nossas próprias repsostas. Como todos os textos antigos de Yoga insistem em ensinar que, se pretendemos alcançar o Divino (ou a solução definitiva para a nossa vida) em nós, é-nos recomendado exercer um afiado, constante, profundo e claro discernimento, para defender-nos de ilusões, fantasias, equívocos e engodos.

Só assim podemos evitar iludir-nos e, se já estivermos iludidos, desiludir-nos em relação ao mundo impermanente e, portanto, ilusório e decepcionante.Só depois de nos sentirmos desiludidos quanto à impossível perenidade de tudo, pois tudo é transitório, chegaremos à mais libertadora e iluminadora conquista, que é desapegar-nos das coisas do mundo, sem o qual não podemos começar a caminhada rumo à única realidade perene”.

Tal como nos diz a Gheraṇḍa Saṁhitā (1:5)

“Assim como pelo aprendizado do alfabeto pode-se, através da prática, dominar todas as outras ciências, assim também, através de praticar inicialmente o Hatha Yoga, pode-se ascender à posse da Verdade.” ,

X podia ter seguido o caminho largo do ego e do bhoga (aquele que só busca o prazer e o que lhe agrada os sentidos, dominado por mil desejos, apegos e aversões), mas seguiu o caminho estreito da dedicação incondicional, da prática regular, do esforço por se auto-superar (de tapas, como falámos no último post). X optou pela inteligente auto-reeducação. E tem sido um privilégio observar a sua evolução, ver o caminho que fez, ver o ser humano incrível que é. Ver o seu corpo cada vez mais forte, a sua respiração cada vez mais presente, a postura cada vez mais leve. É sempre um prazer ver X no tapete, ver X vencer as suas lutas mesmo quando X pensa que não as está a vencer. Ver o seu pensamento e o seu coração a serem cada vez mais luminosos como sempre foram e que X vai finalmente vislumbrando.

Porque hoje é um dia especial, muito obrigada por esta viagem  partilhada!