“Voltai os vossos olhares para a frente; quanto mais vos elevardes pelo pensamento acima da vida material, menos sereis magoados pelas coisas da Terra”.

O livre-arbítrio, enquanto lei base da progressão da cada um de nós, permite ao Homem viver o equívoco.

Jesus ensinou-nos a dizer pela oração do Pai-Nosso: “Perdoai-nos, Senhor, as nossas faltas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. Neste sentido, uma compreensão contrária sobre o perdão, é fruto da ignorância espiritual, e uma fabricação dos homens onde impera a lei do medo no lugar do uso da razão.

Coisas simples como agradecimento, perdão, solidariedade:

  • Permitem alinhar o pensamento para com outros de forma activa.
  • Criam um canal de comunicação entre o nosso íntimo e aqueles a quem a dirigimos.
  • O indivíduo que vive segundo as premissas da solidariedade vive menos centrado em si, pois deposita grande atenção no trabalho de equipa e no bem comum. Uma sociedade que vive com esta orientação é mais protegida e desenvolvida, pois cada indivíduo tem sobre si a atenção e o cuidado de muitos outros. Uma sociedade de indivíduos unicamente preocupados com o seu próprio bem-estar é egoísta, pelo que é mais desprotegida. Aqui, cada um tem somente o seu próprio olhar a cuidar de si.
  • O primeiro terá mais sucesso porque pode somar às soluções que procura, a inteligência de outros – daqueles que se preocupam com ele de forma indulgente, e que são com ele solidários. É uma vivência solidária reciproca, em equipa, em comunidade. O valor total de inteligência dirigida em favor daquele que age de forma solidária e indulgente para com outros, inclui a resultante da interacção social (física), mas também a espiritual, daqueles que promovem e a quem promovem o bem. Há aqui um efeito multiplicador que nos esquecemos de contabilizar porque ainda nos é difícil assimilar o alcance da mensagem de Jesus.
  • O segundo cuida somente de si, e porque negligencia os outros, é provável que receba desses a mesma negligência. Sim, vivemos numa rede social, mas também espiritual.

O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir. Uma é sempre ansiosa, de sombria susceptibilidade e cheia de amargura; a outra é calma, pacífica e caridosa.

“Quantas vezes perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-eis, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes”. Aí tendes um dos ensinos de Jesus que mais nos devem percutir a inteligência e mais alto falar ao coração. Ele, o justo por excelência, responde a Pedro: perdoarás, mas ilimitadamente; perdoarás cada ofensa tantas vezes quantas ela te for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmo, que torna uma criatura invulnerável ao ataque, aos maus procedimentos e às injúrias; serás brando e humilde de coração, sem medir a tua mansuetude; (….) Se os actos do outro vos prejudicaram, mais um motivo aí tendes para serdes indulgentes, porquanto o mérito do perdão é proporcionado à gravidade do mal. Nenhum merecimento teríeis em relevar os agravos dos vossos irmãos, desde que não passassem de simples arranhões” (Simeão, 1862).

Além disso, perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio; perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era. “Nunca perdoarei”, é uma frase sem sentido, pois pronuncia a sua própria condenação. Quem sabe, aliás, se, descendo ao fundo de vós mesmos, não reconhecereis que fostes o agressor? Quem sabe se, nessa luta que começa por uma alfinetada e acaba por uma ruptura, não fostes quem atirou o primeiro golpe, se vos não escapou alguma palavra injuriosa, se não procedestes com toda a moderação necessária?

Todavia, há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitas pessoas dizem, com referência ao seu adversário: “Eu lhe perdoo”, mas, interiormente, alegram-se com o mal que lhe advém, comentando que ele tem o que merece. Quantos não dizem: “Perdoo” e acrescentam. “mas, não me reconciliarei nunca; não quero tornar a vê-lo em toda a minha vida.”

Aqui recorremos ao que nos ensinou Paulo de Tarso: “O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar às grandes almas; o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade. Não olvideis que o verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras”.

Com o devido tempo, todos somos capazes de perdoar e de ser perdoados.

Isto não significa que temos de trazer para a nossa intimidade pessoas a quem achamos que nos fizeram grandes ofensas, apenas que as podemos perdoar.